3 de abril de 2018

Canção de Segunda: 'O Bêbado e a Equilibrista'



Um dos maiores clássicos da parceria João Bosco & Aldir Blanc é “O Bêbado e a Equilibrista”. Mais do que um clássico, essa música foi um hino. Um hino do Brasil na época da ditadura e da anistia. “Com ela, a música popular soube encarnar como absoluta perfeição o momento histórico”, já disse Geraldo Carneiro. “Em uma certa hora aquela música cai na mão da Elis Regina e ela se apaixona. Quando ela grava está completamente possuída por aquela música, já não nos pertence”, já disse João Bosco. E no palco do Theatro Municipal, é o próprio João Bosco quem cantará.

Lançada em 1978, a música tem forte teor político. Mas surgiu, na verdade, como um desejo de João Bosco homenagear Charles Chaplin. Chaplin tinha morrido no Natal de 1977. “Estava em Minas, naquelas festividades de Natal e Ano Novo, e as pessoas entrando já no clima carnavalesco. Comecei a querer fazer no violão algo que ligasse o Chaplin àquele momento musical brasileiro, carnavalesco”, disse João numa entrevista. “Todos sentiram muito porque ele divertiu muito e de maneira incomum. Tratando os temas eminentemente humanos e se posicionando dentro desses temas a favor dos miseráveis, do vagabundo. Mas com uma alegria, algo invejável, e no final dos filmes havia sempre um horizonte onde você podia chegar a pensar em um dia viver em um mundo diferente. Não tão desfavorecido como este”, explicou. “Mas ele fazia de uma maneira muito bonita. Eu ligava muito o Chaplin ao sorriso, tem uma música que ele compôs, Smile, que eu acho belíssima, ele também tinha uma inspiração musical. Comecei a querer fazer no violão algo que ligasse o Chaplin àquele momento musical brasileiro, carnavalesco, desenvolvendo uma linha a partir do sorriso dele, a partir de Smile. Se você pegar a linha de “O Bêbado e a Equilibrista” vai dar no Smile”.

A letra é cheia de referências, a começar ao próprio Charles Chaplin. "Caía a tarde feito um viaduto.. E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos...", diz a letra. O viaduto, no caso, era o Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro, que desabou em 1971 deixando 29 mortos. O momento político do Brasil é lembrado várias vezes, em metáforas ou em menções como “Choram Marias e Clarisses” . As Marias e Clarices eram as viúvas dos presos políticos, representadas na letra pela Maria, mulher de Manuel Fiel Filho, e pela Clarisse, de Vladimir Herzog: os dois morreram nos porões do DOI-CODI. 

É um “Brasil que sonha... com a volta do irmão do Henfil”, o sociólogo Herbert de Souza - Betinho – que estava exilado. "O que é bacana nessa música é que ela não nasceu ligada ao tema", disse Aldir Blanc. "Casualmente, encontrei o Henfil e o Chico Mário, que só falavam do mano que estava no exílio. O papo com o Chico e o Henfil me deu um estalo. Cheguei em casa, liguei para o João e sugeri que criássemos um personagem chapliniano, que, no fundo, deplorasse a condição dos exilados"

A canção foi um sucesso arrebatador. "A música foi cantada pela primeira vez, pela Elis, num programa em São Paulo. No dia seguinte, estava estourando em todo o Brasil e ainda nem tinha sido gravada", disse Aldir.

'O Bêbado e a Equilibrista' também revela as relações de amizade de João e Aldir - que, próximos de Henfil, se aproximaram mais de Elis. “Meu primeiro disco gravado, que eu dividi um lado com o Tom Jobim, foi uma idéia do Pasquim, com produção do Sérgio Ricardo. Então, como o Aldir também colaborava com o jornal, nós freqüentávamos a redação e era comum estarmos com Henfil, Sérgio Cabral, Ziraldo, Millôr... Depois, estreitei mais ainda as relações com o Henfil em função da aproximação dele com a Elis Regina, que era uma grande intérprete das nossas canções. E isso tudo gerou “O Bêbado e a Equilibrista”. É uma canção que celebra toda essa amizade: a minha, do Aldir, da Elis e do Henfil, com o Brasil", conclui Bosco.



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9 comentários

  1. Acho bacana compartilhar músicas assim, antes eu fazia muitas playlists de músicas e é bem legal compartilhar canções que gostamos.

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  2. Que interessante saber sobre a história por trás da música. Não a conhecia, mas acho tão bacana pesquisar sobre essas coisas e entender melhor o que a letra trata e o que traz para o ouvinte ♥

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  3. Esse post me lembrou demais as ulas de história da escola e as músicas que os professores indicavam. Nunca tinha escutado essa, mas o nome é deveras simpático, e eu gostei da letra também. É muito legal ver que tem tanto significado por trás da música *-*

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  4. O cenário musical era super diferente de agora mesmo ainda existindo um cenário de MPB os músicos eram mais prestigiados atraiam multidões por onde andavam. Elis Regina era uma intérprete maravilhosa. Vou ouvir a música e conhecer melhor a letra...Gostei bastante do post bjs

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  5. Depois de ler o post a primeira coisa que fiz foi procurar a música para escutar e preciso dizer:adorei<3 Tem um ritmo tão leve que quase esqueço que a letra é triste.
    Lembro que na escola meu professor de história costumava citar alguns trechos de músicas que foram criadas na época da ditadura, mas essa nunca tinha ouvido.
    Beijão

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  6. Oi Milla!
    A música pode não ser nova, mas o teor político dela vem bem a calhar no momento que o nosso país está.
    Achei super legal saber que ela veio para homenagear Charles Chaplin, é algo que jamais passaria pela cabeça. E amo a voz de Elis, acho que minha versão favorita é com ela! <3
    xoxo

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  7. Essa música é demais! E não é a primeira vez que eu entro no seu blog e vejo uma (boa) indicação de música haha, seu gosto musical é ótimo <3 Tenho certeza que muitos leitores ainda não conheciam essa música. De minha parte, foi legal conhecer da história (:

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  8. Que bacana uma musica cheia de contexto historico e politico, e bom a preocupação com letra da musica e não so com a batida. Gostei de vc trazer um post diferente com esta importância de detalhes. Bjs

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  9. Oi, Milla! Tudo bem?
    Eu acho interessante perceber que, muitas vezes, ouvimos uma música sem sequer imaginar tudo o que ela carrega em sua letra. Nem sempre paramos para pesquisar o contexto histórico e político da época em que ela foi produzida - e querendo ou não, toda produção sempre é atravessada pela sociedade que a cerca. Bacana demais sua postagem!
    Literalize-se

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